O suicídio de Kurt Cobain, em 1994, deixou o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, preocupado. Em 9 de abril daquele ano, um dia após o corpo do líder do Nirvana ter sido encontrado, a Casa Branca recebeu a visita dos integrantes do Pearl Jam, outra banda expoente do grunge. Clinton convocou os músicos para o Salão Oval – aparentemente queria um conselho, em especial do cantor e líder, Eddie Vedder: deveria ou não fazer um pronunciamento oficial à nação sobre a tragédia?
Reproduzida pela revista “Spin”, a história está no livro “Mudhoney: The sound and the fury from Seattle”, de Keith Cameron, lançado em março. É a “biografia” do Mudhoney, que toca em São Paulo nesta quinta-feira (15) como atração principal do Sub Pop Festival (veja serviço abaixo) e nesta sexta-feira (16) em Goiânia.
O grupo é o mais grunge dentre os maiores nomes do grunge (Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains) e, talvez por isso mesmo, o menos popular deles.
O episódio da sede do governo dos Estados Unidos dá ideia não só dos efeitos da morte de Cobain sobre os fãs (e eventualmente autoridades), mas também sobre os artistas do período. Não é por acaso que se destaca no livro. Os integrantes do Mudhoney também estavam na Casa Branca.
Em entrevista ao G1 por telefone, o guitarrista da banda, Steve Turner, recorda o caso. Sintomaticamente, a pergunta era: qual a pior memória desses 25 anos de carreira do Mudhoney? “Ah, cara! Não sei...”, responde em princípio. Mas na sequência emenda: “Eu estava lembrando do passado outro dia, por causa dos 20 anos da morte do Kurt. Fazíamos uma turnê com o Pearl Jam quando descobrimos que ele tinha se matado”.
Turner conta ter visto a notícia na TV, no quarto de hotel onde se hospedavam os parceiros Matt Lukin (baixista, substituído em 2001 por Guy Maddison) e Dan Peters (baterista). “No dia seguinte, a gente estava na Casa Branca. Foi muito, muito estranho. Não é, definitivamente, uma lembrança boa.”
Essa, contudo, é a única passagem da conversa em que Turner resolve ser sério. Ele ri com frequência, não se incomoda com temas antigos. Nem faz parecer que devesse. Por exemplo: questionado, em oposição, sobre as lembranças mais engraçadas do Mudhoney, menciona um talento específico – consumir álcool em excesso.
“No começo da carreira, o mais engraçado acontecia depois dos shows, ficávamos ‘superbêbados’ e fazendo estupidez por causa disso... Éramos caras jovens, saindo juntos por aí e sendo estúpidos. Adoro me lembrar disso”, garante, dando risadas ao fim de cada frase. Hoje, tem 49 anos. Mark Arm, o vocalista de influente voz esganiçada, tem 52.
Sub Pop e ‘orgulho’ grunge
A apresentação desta quinta-feira em São Paulo marca a quinta turnê do Mudhoney no país. Faz parte da primeira edição brasileira do Sub Pop Festival, que tem ainda na escalação a banda canadense Metz e a nova-iorquina The Obits.
Turner e cia vêm na condição de "veteranos". O nome do evento faz referência à gravadora independente de Seattle que, em resumo, lançou o grunge, tido como último grande movimento do rock. Pelo selo, “Bleach” (1989), álbum de estreia do Nirvana, que custou alegados US$ 600.
A história da Sub Pop é a história do Mudhoney – Mark Arm, o vocalista, trabalha na gravadora, oficialmente como “chefe” do centro de distribuição. Antes do Mudhoney, ele e Turner eram da banda Green River. Como o círculo em Seattle era mesmo restrito, existe aqui outra coincidência: o Green River também tinha na formação o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament, futuros membros do Pearl Jam.
“Eu estou tão ligado ao grunge na minha mente... Penso logo na Sub Pop em 1988”, admite Turner, rindo. Ele diz não se incomodar em ser associado a um movimento ou a uma cena. Mas logo ri de novo, e fica difícil não suspeitar de alguma ironia no comentário.
“Não me importo, realmente. Acho que somos muito grunges”, confessa, rindo novamente. “Temos mesmo um som de guitarras sujas. Eu não ligo para o termo, é tranquilo para mim. Em termos de importância histórica, estamos junto com as bandas do grunge.”
“Não acho que estejamos nos repetindo. Mas, sim, há muita semelhança. Temos algumas coisas que são mesmo muito únicas: a voz do Mark, a bateria do Dan. Não estamos tentando nos reinventar a cada vez que fazemos um disco, sabe?”
Segundo ele, em termos práticos, o essencial do grupo se resume “aos arquétipos clássicos do punk rock e do rock de garagem”. Como influência, cita “o rock dos anos 1960 imediatamente anterior ao Black Sabbath” – e o guitarrista agora ri de novo neste momento, mas desta vez não fica claro o motivo –, além “da cena hardcore e underground dos anos 1980”.
Faltou listar que ninguém ali faz o tipo, nem tem vocação, para “estrela do rock”. E a irreverência das letras de Mark Arm, atributo que se estende à postura desleixada dos músicos fora do palco.
O livro “Mudhoney: The sound and the fury from Seattle” descreve que certo dia, duas décadas atrás, Matt Lukin, Mark Arm e Dan Peters fumaram maconha antes de participar de uma solenidade. Mas Lukin tinha guardado um pouco da droga no bolso, sem que ninguém soubesse.
Na hora de entrar no local do tal encontro, foi avisado de que haveria uma “fiscalização rigorosa por parte do Serviço Secreto”. Acuado, o baixista achou certo engolir a seco a porção restante. Em seguida, ao lado do Pearl Jam, fizeram a visita à Casa Branca. Kurt Cobain tinha sido encontrado morto, aos 27 anos, na véspera.
Sub Pop Festival em São Paulo
Bandas: Mudhoney, METZ e The Obits
Quando: quinta-feira, 15 de maio
21h – abertura da Casa/ DJ Set Steve Turner (Mudhoney)
22h – Obits
23h – METZ
Meia-noite – Mudhoney
1h15 – DJ set Adriano Cint
Onde: Audio Club (Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca)
Ingressos: R$ 160; vendas pelo site oficial (clique aqui) ou na bilheteria (Rua Tagipuru, 795, Barra Funda)
Sub Pop Festival em Goiânia, no Bananada Festival
Bandas: Mudhoney, METZ e The Obits
Quando: sexta-feira, 16 de maio, a partir das 14h
Onde: Festival Bananada (Centro Cultural Oscar Niemeyer (Av. Deputado Jamel Cecílio, 4.490, quadra/gleba lote 1, setor Fazenda Gamaleira)
Ingressos: vendas no local (valor mínimo R$ 5).
Fonte; G1
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