Indiciamento de princesa abala imagem da monarquia espanhola


A princesa Cristina, filha mais nova do rei da Espanha, Juan Carlos, terá que comparecer a um tribunal em março para responder a acusações de lavagem de dinheiro e fraude fiscal.

Essa é a primeira vez que um membro da família real espanhola é questionado na Justiça por acusações de corrupção, em um caso que vem causando sérios danos à imagem da monarquia do país.

As acusações são relacionadas a atividades do marido da princesa, o ex-jogador profissional de handebol Inaki Urdangarin, com quem ela se casou em 1997 e que, desde o final de 2011, passou a ser investigado pela polícia.

As suspeitas, segundo jornais espanhóis, eram de que Urdangarin e seu então sócio, Diego Torres, haviam usado sua ONG, o Instituto Noos, para organizar eventos para os governos regionais de Valência e das Ilhas Baleares a preços altamente inflacionados.

Estratégia Real
Listado como suspeito, o marido da princesa teve que depor duas vezes em um tribunal de Palma, em Maiorca, uma em 2012, outra em 2013.
Em 2012, na entrada da corte, Urdangarin parou brevemente em frente aos jornalistas presentes para afirmar, desafiadoramente, que era inocente e estava pronto para limpar seu nome.

Antes disso, o rei Juan Carlos tinha realçado, em um discurso de Natal em 2011, que 'a justiça é a mesma para todos', o que foi interpretado como um sinal de que a princesa Cristina não teria ligação direta com as acusações contra seu marido.

Mas, no decorrer das investigações, acompanhadas com grande interesse pela mídia do país, começaram a surgir dúvidas sobre sua participação no esquema.

Em abril do ano passado, Cristina foi formalmente considerada suspeita no caso e convocada para depor.
Mas advogados recorreram, e o tribunal decidiu que não havia provas suficientes que justificassem sua convocação.
A mais recente decisão, de novamente indiciá-la e convocá-la a depor em março para ser interrogada sobre as acusações de lavagem de dinheiro e fraude fiscal, é fruto de descobertas de investigações mais recentes do juiz de acusação.

Algumas das acusações contra a princesa são centradas em torno do fato dela ser dona, junto com o marido, de uma empresa chamada Aizoon, e que teria recebido dinheiro público indevidamente obtido pelo Instituto Nóos.

Os promotores alegam Alega-se que o casal usou parte do dinheiro para ganho pessoal.
Urdangarin continua negando que tivesse com efeito algo errado e até agora não houve nenhuma condenação.

Príncipe 'popular'
Mas, agora que a princesa foi indiciada e convocada para depor, ficou muito difícil para o rei distanciá-la das acusações de corrupção que cercam o marido.

A correspondente do jornal espanhol "El Mundo" para assuntos reais, Ana Romero, acredita que o escândalo já criou 'uma incrível quantidade de danos' à imagem da família real; uma pesquisa recente de um jornal constatou que 62% das pessoas querem que o rei Juan Carlos abdique.

A pesquisa também descobriu que 78% de pessoas entre 18 e 30 anos querem que o rei renuncie.
E um pouco mais da metade dos entrevistados disseram que eles não apóiam a monarquia - um resultado que vai agradar aqueles na Espanha que têm boas lembranças do passado republicano do país.

O único raio de luz vindo da pesquisa para os monarquistas é que dois terços das pessoas tinham uma visão favorável do príncipe Felipe, filho do rei e herdeiro do trono.

Os sinais da idade começa a pesar sobre o rei Juan Carlos, que recentemente se submeteu a várias cirurgias; vários jornais apontaram para a fragilidade física demonstrada pelo rei em um discurso na segunda-feira, em uma cerimônia militar anual.

Além disso, sua imagem foi afetada por rumores de casos extraconjugais e pelo episódio em que foi caçar elefantes em Botsuana, em pleno auge da crise econômica - o que o obrigou a pedir desculpas em público.
Ana Romero acredita que se o rei abdicar, não será em breve. Ela acha que Juan Carlos deve permanecer no trono pelo resto do ano, até ter 'limpado os problemas' da casa abrindo caminho para a coroação de seu filho.

Funcionários ligados à família real apóiam esse ponto de vista, argumentando que se o rei tivesse que deixar o trono em um momento de escândalo na mídia, isso só enfraqueceria a instituição da monarquia na Espanha.

0 comentários:

fazer login para deixar o seu comentário.