Dez assuntos que puseram o Brasil nas manchetes internacionais em 2013

Em termos de notícias em que o Brasil teve destaque nas capas dos jornais de todo mundo, provavelmente 2013 foi um dos anos mais marcantes até hoje.

O país naturalmente já ganharia mais visibilidade internacional, visto que se prepara para receber dois dos maiores eventos esportivos internacionais, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

Mas se a construção dos estádios e da infraestrutura para o Mundial de futebol já eram um destaque previsto nos noticiários do ano que se encerra, outros fatos foram mais imprevisíveis.

Para muita gente, dentro e fora do Brasil, este foi o ano em que o 'gigante acordou', com milhares de pessoas tomando as ruas em junho para protestar contra, entre outras coisas, os gastos nos preparativos para a Copa.

Dentro dos gramados, o título convincente na Copa das Confederações - frente à atual campeã mundial, a Espanha - fez de uma seleção desacreditada, como era a equipe brasileira, uma forte candidata ao hexacampeonato mundial em 2014.


Tragédias também colocaram os holofotes internacionais no Brasil. Logo no início do ano, o incêncio na Boate Kiss, em Santa Maria, que matou dezenas de jovens, comoveu o mundo.

E a economia emergente ganhou as manchetes com seus tropeços - a queda do império de Eike Batista e a os problemas econômicos do país, como o aumento dos gastos do governo e o crescimento econômico pouco vigoroso.

A BBC Brasil fez uma lista de dez temas que puseram o país em evidência neste ano. Confira e relembre os fatos:

1. Incêndio em Santa Maria
O Brasil acordou mais triste no domingo 27 de janeiro.
Dezenas de bombeiros ainda trabalhavam no resgate de vítimas do incêndio na boate Kiss em Santa Maria, no centro do Rio Grande do Sul.

A tragédia deixou, ao fim, 247 mortos e mais de cem feridos. A investigação mostrou que o incêndio teve início com o uso de fogos pirotécnicos por parte da banda Gurizada Fandangueira. Os integrantes do grupo e os donos da boate foram indiciados por homicídio doloso.

A investigação mostrou ainda que havia superlotação no local e uma série de irregularidades. A espuma acústica, por exemplo, era feita de material toxico - a fumaça foi uma das causas das mortes.

A morte de mais de 200 jovens, a maioria universitários, causou comoção nacional e motivou uma discussão sobre a segurança nas boates do país.

Mais tarde, a investigação também apontou responsabilidade dos bombeiros e das autoridades, que não haviam feito as vistorias necessárias no local.


2. Estupro de turista no RJ
A pouco mais de um ano da Copa do Mundo, o estupro de uma turista americana de 21 anos no Rio de Janeiro em março deste ano colocou em evidência o estado de insegurança nas cidades brasileiras.

A turista foi estuprada oito vezes, por diferentes homens, na frente do namorado francês. O crime aconteceu após o casal tomar uma van que atuava no transporte público em Copacabana.

O casal passou seis horas em poder dos estupradores e foi deixado em São Gonçalo, na região metropolitana, antes de os criminosos forçarem a vítima a tentar fazer um saque em um caixa eletrônico.

O fato de o estupro ocorrer em uma van, com películas de insulfilm, que bloqueava a visão dos que estavam fora, fez lembrar o caso da jovem indiana violentada em um veículo de transporte público. O caso causou comoção internacional e manchou a imagem da Índia.

As autoridades se apressaram em resolver o caso. Os acusados foram rapidamente localizados. Em agosto, a Justiça condenou três homens por envolvimento no caso.

3. Seleção brasileira recupera imagem

A Seleção Brasileira começou 2013 desacreditada. O time do país sede da Copa do Mundo acumulava maus resultados e atuações ruins, mesmo tendo alguns dos melhores nomes do futebol mundial, como Neymar.

O comando do time havia sido trocado de surpresa, em novembro de 2012. No lugar de Mano Menezes, assumiu Luiz Felipe Scolari.

Mesmo sob o comando de Felipão, que havia liderado a conquista do pentacampeonato mundial em 2002, a seleção ainda não convencia os torcedores.

A apreensão continuou até o início da Copa das Confederações, espécie de 'ensaio' antes do Mundial.
As boas atuações dentro de campo foram empolgando aos poucos os torcedores. Em meio aos protestos de junho, o tom nacionalista das manifestações acabou sentido nos estádios. Em todos os jogos, o momento do Hino Nacional se tornou um momento de júblio da torcida.

Ao final, a seleção venceu a favorita, a Espanha, atual campeã mundial. A vitória por 3 a 0 parece ter finalmente convencido os torcedores e recolocado o Brasil na lista dos favoritos para a Copa do Mundo de 2014.


4. Protestos
Em junho deste ano, um pequeno grupo de manifestantes do Movimento Passe Livre em São Paulo entrou em choque com a polícia em meio a um protesto contra o aumento do passe de ônibus de R$ 3 para R$ 3,20.

Cenas da violência e da arbitrariedade da polícia ganharam as redes sociais. O movimento, que já existia em várias cidades, começou a ganhar força com o que foi considerado abuso policial. Uma manifestação foi convocada para o dia 17 de junho em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Nesse dia, uma multidão de mais de 100 mil pessoas saiu às ruas do Rio, de São Paulo e de várias outras cidades. O protesto foi além do aumento nas passagens e as ruas fizeram eco às mais variadas manifestações. Havia desde cartazes contra PEC-37 (projeto de lei que limitava o poder de investigação do Ministério Público) até a favor do Estado laico.

Os protestos pegaram o país de surpresa. A classe política se viu acuada e os dirigentes viram sua popularidade diluir rapidamente. Em Brasília, manifestantes chegaram a ocupar o teto do Congresso Nacional.

Autoridades do Rio, de São Paulo e outras cidades cederam aos protestos e baixaram o preço das passagens. A opinião pública, resistente aos protestos inicialmente, passou a apoiar as manifestações. A polícia baixou o tom repressivo. Protestos tornaram-se cotidianos por quase dois meses.

Ao longo das semanas, o debate político se acirrou nas ruas. Houve registro de brigas entre grupos opostos. Os protestos também ganharam a presença dos Black Blocs, grupo de mascarados de inspiração anarquista, que passaram a promover quebradeira de agências bancárias. Os protestos acabaram ofuscando a Copa das Confederações.

5. Espionagem
Em junho deste ano, um ex-colaborador da NSA (Agência Nacional de Segurança) de apenas 29 anos criou um imbróglio diplomático para o governo dos Estados Unidos.

Edward Snowden revelou um grande esquema de espionagem no qual agências de inteligência estariam monitorando secretamente milhões de telefonemas, e-mails e outras mensagens de cidadãos americanos e de vários países.

Snowden vazou as informações a partir de Hong Kong ao jornalista americano Glen Greenwald, que vive no Rio de Janeiro. O ex-colaborador da NSA passou a ser buscado pelos Estados Unidos e acabou na Rússia, onde ganhou asilo temporário.

Os vazamentos mostraram que, além de cidadãos comuns, dezenas de chefes de Estado também eram monitorados, entre eles a presidente Dilma Rousseff.

Na esteira do escândalo, Dilma cancelou a visita de Estado que faria a Washington, sobretudo após revelações de que a Petrobrás também teria sido alvo.

Dilma criticou fortemente a espionagem na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Em seguida, os vazamentos mostraram que a chanceler alemã, Angela Merkel, teve o próprio celular grampeado.
Merkel reagiu. Brasil e Alemanha apresentaram uma resolução contra a espionagem na ONU. Snowden continua asilado na Rússia e chegou a escrever uma 'carta ao povo brasileiro', que levantou especulações sobre um pedido de asilo ao Brasil. Em dezembro, um juiz federal considerou o sistema de espionagem ilegal.

6. Leilão de Libra
Ainda sob o calor das manifestações, o leilão do Campo de libra, o primeiro sob o novo modelo de partilha, se deu sob tensão.

O governo convocou o Exército para fazer a segurança do hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Na imprensa internacional, a imagem de soldados montando guarda junto a banhistas na praia ilustrou o leilão de uma das maiores reservas petrolíferas do mundo.
Ao fim, apenas um consórcio apresentou proposta, para a decepção de muitos analistas. O grupo formado pela Petrobrás, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e as chinesas CNPC e CNOOC arrematou o campo.
O consórcio também deu o lance mínimo de R$ 15 bilhões, mais mais 41,65% do petróleo produzido após descontados os custos de produção (o chamado lucro-óleo).
A expectativa é que o Campo de Libra produza 1,4 milhão de barris de petróleo por dia, no seu pico de produção.
O governo comemorou o resultado, mas muitos analistas não tiveram uma opinião tão positiva. A imprensa internacional também teve opinião díspar sobre o leilão.
A revista alemã Der Spiegel disse que o Brasil leiloou um 'tesouro por uma pechincha'. Já o Wall Stret Journal afirmou que o país deu um passo rumo ao patamar das grandes nações produtoras de petróleo.

7. O tombo de Eike Batista


Ele era o garoto propaganda do crescimento econômico do Brasil. Com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões, o empresário Eike Batista foi apontado em 2012 como o sétimo homem mais rico do planeta pela revista Forbes. Mas para ele era pouco - Eike disse que em breve estaria no topo da lista.

A ânsia bilionária de Eike, no entanto, não resistiu à desconfiança do mercado. A baixa lucratividade de suas cinco empresas, a MMX (mineração), MPX (energia), OGX (petróleo), LLX (logística) e a OSX (petróleo) fizeram a fortuna de Eike ruir. A dívida das empresas e da holding seria de cerca de US$ 28 bilhões.

Em novembro, a OGX entrou com um pedido de recuperação judicial. Eike agora corre contra o tempo para equilibrar as contas da empresa. Se não conseguir, em breve poderá ver a falência da OGX.

Mais que um império empresarial, a derrocada de Eike também pode fazer ruir projetos audaciosos do empresário carioca. Já não se sabe qual será o destino do Porto de Açu, um imenso complexo no litoral norte do Rio de Janeiro.

Eike havia apadrinhado vários projetos na cidade. Mas a crise que assolou os negócios do empresário fez Eike cancelar os investimentos nas UPPs cariocas e colocar à venda o emblemático Hotel Glória, sob restauro.

8. A oposição se realinha no Brasil
Durante as manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff viu sua alta popularidade encolher em questão de dias. Se até então a presidente parecia ter pela frente uma reeleição garantida com facilidade, o turbilhão político fez Dilma se deparar com um cenário eleitoral improvável.

O cenário ganhou tons ainda mais surpreendentes em outubro deste ano, com o anúncio da aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos, dois ex-ministros do governo petista.

Marina, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, já havia saído a grande novidade das eleições em 2010, quando ficou em terceiro lugar com mais de 20 milhões de votos, então pelo Partido Verde. Após desentendimentos, Marina deixou o PV e passou a militar pela criação da Rede Sustentabilidade, um novo partido.
A Rede não conseguiu validar o número mínimo de assinaturas para se efetivar como partido e teve sua criação barrada. Em uma jogada inesperada, Marina anunciou em outubro sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro, o PSB, do governador pernambucano Eduardo Campos.

Campos também almeja chegar ao Planalto. Ainda não se sabe qual dois dois estará na cabeça da chapa, que pode desbancar o PSDB como primeira opção da oposição no país.

Enquanto Marina e Campos anunciavam o noivado improvável, o líder do PSDB, Aécio Neves, ainda tentava impor sua candidatura sobre José Serra, que não dava mostras de desistir da corrida à Presidência, apesar de ter amargado duas derrotas. Serra anunciou na última semana apoio a Aécio. Mas embora a oposição tenha já posto o batalhão na rua, Dilma recuperou parte da popularidade, com pesquisas apontando para seu favoritismo em 2014.

9. A economia patina

Após virar o queridinho da imprensa internacional, que não cansava de elogiar o vigor da economia, o Brasil virou alvo de desconfiança dos mercados em 2013.

Em setembro, a revista britânica The Economist colocou na capa a frustação com a economia brasileira. O Cristo Redentor, que anos antes aparecia decolando em outra capa da revista, desta vez aparecia desgovernado, prestes a se chocar com o solo.

Após o PIBinho de 2012, quando o país cresceu apenas 0,9%, a promessa do governo era a de que o país teria um resultado mais vigoroso neste ano.

Ao longo dos meses, no entanto, a economia deu sinais pouco promissores e as expectativas foram diminuindo. Em dezembro, a pesquisa Focus do Banco Central, que avalia a opinião de fontes do mercado, disse que o país não deve crescer mais que 2,3% - resultado que não é uma tragédia, mas que está longe dos 7,5% de 2010.

Além da desaceleração, o governo viu picos de elevação da inflação, que ao fim deve fechar dentro do teto meta de 6,5% em 2013. Também houve ao descompasso das contas públicas, com excesso de gastos do governo e a expectativa de que o Brasil não cumpra a meta do superávit primário deste ano.

Apesar dos números pouco promissores, o desemprego chegou ao nível mais baixo da história. Em dezembro, o índice de desocupação era de apenas 4,6%.

Para muitos economistas, a economia deve voltar a ganhar fôlego em dois ou três anos, quando se fizer sentir o efeito das privatizações de aeroportos, estradas e ferrovias, feitos pela presidente Dilma Rousseff.

10. A Copa, sempre a Copa

Em menos de uma semana, no dia 31 de dezembro, todos os 12 estádios para a Copa do Mundo deveriam estar prontos. A expectativa é que apenas metade deles, no entanto, cumpra o prazo.

A contagem seria diferente se em novembro a grua que levantava a última parte do teto da Arena São Paulo não tivesse caído e matado dois operários. Mais de 90% do estádio estava pronto.

As duas mortes na arena que vai receber o jogo de abertura da Copa trouxe à tona, mais uma vez, o atraso nas obras e a correria para deixar tudo pronto.

Em dezembro, foi a vez de Manaus registrar outro incidente fatal. Um operário despencou e perdeu a vida, após um cabo se romper. No mesmo dia, outro operário morreu, vítima de ataque cardíaco, nas obras de um centro de convenções ligado à Copa.

Familiares e operários culparam a correria pelas mortes. A Justiça chegou a paralizar as obras e trabalhadores entraram em greve. Ao todo, sete operários perderam a vida nos canteiros de obra.

A expectativa, agora, é que até abril todos os estádios estejam prontos. Sob a marcação cerrada da imprensa internacional, o Brasil se apressa em deixar tudo preparado para a Copa. Além das obras nos estádios, o governo tenta ainda driblar eventuais problemas nos aeroportos e a escalada dos preços dos hotéis, que já anuncian diárias exorbitantes para os dias do Mundial.

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